sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Terra Morta: Outras Pessoas – Parte I


O que as pessoas da colônia Terra Nova viram, as deixaram um tanto quanto curiosas. Em sua rotina noturna, um aldeão viu um estranho homem se aproximando correndo. Outras pessoas na colônia tiveram a atenção atraída pelo estranho, fosse porque notaram aquela figura na escuridão da noite ou porque gritaram para verem aquilo.

O que elas viram foi o seguinte: Vindo do deserto, um homem de quase 23 anos, mantos cinzentos cobrindo o corpo, rosto sujo, barba por fazer e ( essa parte eles se contradisseram muito a respeito) um lagarto sendo carregado junto ao peito. Ele vinha correndo em extrema velocidade, mais ou menos quando uma multidão havia se formado para observá-lo. Era algo glorioso, digno... até que ele tropeçou num montinho de areia e caiu próximo de um aldeão.

Todos observavam Hugo de uma distância segura. Ele estava deitado de bruços, rosto na areia, imóvel. Ficou assim por quase dois minutos, quando houve uma implosão de areia debaixo dele, jogando-o para o lado e virando-o de barriga para cima. E, onde ele estava deitado, estava o lagarto semi-sufocado, recuperando o ar perdido. Era uma criatura que media 50 centímetros, corpo amarelo, um círculo negro no meio das costas e olhos grandes e escuros, parecidos com duas bolas.

Então o desespero:

–Ahhh! – gritou uma aldeã – Um calango-areia! AHHHH!!

Uma gritaria seguiu a da mulher e, em instantes, muitos pessoas já haviam corrido dali. O calango limitou-se a balançar a cabeça para cima e para baixo. Logo, não se via uma pessoa perto de Hugo e do calango. O réptil se dirigiu ao dedo de seu salvador e mordeu-o, fazendo- o sentar e berrar de dor.

–Mas que Hugo se interrompeu – Ué? Cadê o pessoal da colônia? – e olhou para o calango.

O calango assentiu àquela pergunta que não fora de “sim ou não”. Hugo ficou decepcionado. Levantou-se, pegou o lagarto e o colocou sobre o ombro, e criatura respondeu com uma escalada até sua cabeça. Hugo começou a caminhar por dentro da colônia, procurando sinal de vida naquela amontoado de barracas onde caberiam cerca de sete pessoas. Eram barracas altas e cor de marfim, começando a amarelar por causa do tempo. Por toda a parte haviam fogueiras na qual jantares estavam sendo feitos. No centro da colônia estava uma estrutura fixa, provavelmente algum tipo de prefeitura ou morada de algum sábio.

E, claro, bem ao fundo da colônia, um lago de grandes dimensões.

–O que deseja, senhor? – uma voz velha se dirigiu a ele pelas costas.

Hugo se virou e notou que a voz pertencia a um senhor de idade com cabelos pretos despenteados e barba feita, com um manto vinho cobrindo o corpo, ainda que com uma abertura para enxergar sua calça preta.

–Eu...hã...– Hugo começou, muito mal – Eu quero virar membro da colônia.

–Como? ­ – o ancião se impressionou.

–Virar membro da colônia. Sabe?

–Bem, não é bem assim que as coisas acontecem e... Ninguém nunca nos pediu nada igual. Queira me seguir, por favor.

E Hugo seguiu-o.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Terra Morta: Companheiro da Noite


Faltava agora menos de um quilômetro para Hugo chegar à colônia.

A noite já havia caído fazia algum tempo, a lua começava a subir no leste e o frio desértico estava presente nos ventos. Hugo havia parado depois do encontro com os orcs para descansar por cerca de três horas, depois se alimentou e seguiu a viagem com uma pressa inconsciente. Os cantis d’água estavam vazios, tornando a ideia de que a colônia fosse uma miragem algo aterrorizante. A adaga estava limpa, ele contava com cerca de quatorze moedas de bronze e, claro, o medalhão.

Não havia nada de especial nele, a não ser, quem sabe, um preço alto a ser oferecido por ele.Não o faria, claro. Aquilo deveria ser alguma herança de família, agora pertencente a Hugo. “Ele deve ter me considerado um filho dele”, Hugo pensou, “Ou simplesmente um idiota que morreria tentando recuperar o medalhão”.

Agora, Hugo já pode enxergar as sombras das pessoas naquela colônia. Aparentava ser muito maior do que aquela na qual pertencera; sem dúvidas estavam ao redor de algum lago, com a agricultura mais desenvolvida que já vira e mais pessoas do que poderia imaginar. Seria sua chance de conhecer mais aquele mundo.

Faltavam quase 250 metros para chegar a aldeia, quando Hugo notou algo estranho não muito distante dele, ao sul. Lá, a areia subia e descia sozinha, de forma estranha, quase como implosões. O fato o fez andar em sua direção, algum instinto de descobrir o porquê daquilo. A caminhada voltou a ser corrida, que foi interrompida quando Hugo chegou aonde a areia subia e descia. Ali era um ponto onde houvera algum lago, já que o campo árido rodeia aquela região.

Para a surpresa de Hugo, na sua frente estavam dois calangos-areia, seres que comiam areia e, com o movimento da cauda, podia manipular a mesma. As lendas de sua infância estavam se tornando realidade naquele dia. Só faltava aparecer um mormonte! As areias do deserto subiam a medida que os calangos guinchavam, tentando afastar um ao outro do território. Num momento de distração, um dos calangos levou um golpe de areia e voou longe, enquanto o outro permaneceu parado.

Foi nesse momento que Hugo interferiu, sem nem ao menos saber porque, pondo-se a correr até o derrotado, pegando-o no colo e correndo para a colônia. O bicho adversário não conseguiria alcançá-los. Naquela correria de presa, Hugo, enfim, chegou à Colônia de Terra Nova.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Terra Morta: Ladrões ao sol poente – Parte II(Final)


Os orcs que estavam comendo a carcaça do jumento batiam com a descrição dada por Rubens: Capuzes cobrindo os corpos, peles verde-podre e rostos desfigurados; autênticos orcs-do-deserto, algo que Hugo só ouvira falar em lendas que a mãe contara a ele.

Ele parou e observou atônito ao que faziam. Teria que cumprir o que dissera a Rubens, de alguma forma...

Ele deixou cair os panos empoeirados que o cobriam, os cantis e desembainhou a adaga,

Que vida movimentada a minha agora

pensou um pouco mais e pegou um cantil com água, fechou-o bem e enrolou na própria mão. Ficou em posição de guarda, pronto para o ataque. Saiu correndo em direção dos orcs,

Agora que já ‘tou aqui, vamos lá!

sem pensar nas consequências do ato. Hugo chegou perto deles o bastante antes de chamar a atenção. Com o cantil na mão esquerda, acertou o orc mais próximo, tirando-o de combate por um instante. Com a adaga, acertou o que estava pouco a frente na garganta. A morte veio de imediato, fazendo o orc cair com o sangue preto ainda saindo do corte.

O outro, o outro!

Virou-se e deu de cara com o outro orc já de pé. Não havia mais elemento surpresa. Era no mano a mano agora. O orc tirou uma machadinha da bainha(algo que Hugo não notara) e partiu para o ataque.

A adaga, lance!

Hugo hesitou lançar a adaga por um momento.

Vamos, vamos! VAMOS!

Hugo chutou joelho do orc, que cambaleou para o lado. Então, lançou a adaga, acertando a mão em que criatura a criatura segurava a machadinha. O orc deixou a arma cair e guinchou de dor, mas no outro instante já encarava Hugo de novo.

E agora?

Em uma rápida olhada, Hugo notou estar próximo do cantil que acertara aquele mesmo orc. Saiu correndo, pegou o cantil pela correia, rodou-o no alto e acertou outra vez o rosto do orc. E num movimento rápido, deslizou para atrás do orc, segurou-lhe o pescoço e o torceu, matando à criatura na hora. O corpo escorreu para o chão no que pareceu uma eternidade para Hugo. Mas foram apenas cinco segundos. Ele se recuperou da batalha e foi ver o que os orcs possuíam, mais especificamente, o medalhão.

Recolheu o manto que deixara mais atrás, os cantis e algumas moedas de bronze dos orcs. Procurou mais um tempo. Então achou no pescoço do orc que ele torcera: um medalhão com uma fina corrente prateada que tinha um diamante em forma de asa na ponta. Agora era dele. E ele podia seguir para a colônia.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Terra Morta: Ladrões ao sol poente – Parte I


Junka é uma terra morta, com um deserto eterno cercando o povo ainda vivente daquele mundo. Ninguém realmente sabe como o mundo chegou aonde está, mas sabem que têm de sobreviver, a qualquer custo. Algumas criaturas se desenvolveram naquele deserto, criando monstruosidades incrivelmente terríveis. Há também algumas poucas fontes subterrâneas de água que minam na superfície, sendo fontes de água completamente potável da qual várias colônias se aproveitam, chegando até a se estabelecer ao redor de algumas dessas fontes.
Esse mundo é banhado por um único e grande rio, o Senhor das Montanhas, o qual tem em suas margens algumas das mais avançadas colônias, sociedades para ser mais exato. E bem próximo da nascente está a cidade mais avançada, que controla as outras com uma represa de arquitetura fantástica. Poucos sabem desses fatos(as civilizações a beira rio e do próprio rio).
Depois de uma semana de caminhada, Hugo estava ficando sem água. O calor havia aumentado alarmantemente durante aquele período, e isso significa maior dificuldade para encontrar água e até mesmo comida. E sua perseguição também não estava dando frutos. Seria mais fácil achar a sombra de uma cidade do que a dos orcs. Mas algo dizia, mais alto do que qualquer som que já ouvira, que a sombra da morte estava bem visível; à sua frente.
Ele pegou um cantil e esvaziou-o, matando a sede. “Sobraram mais três cantis. Depois, acabou”, Hugo pensou enquanto tampava o cantil vazio e voltou a caminhar. Era meio-dia, e sol castigava sua caminhada sempre àquele horário. No ponto onde estava, uma duna enorme forçava uma subida penosa até seu topo, mas também havia a opção de contornar-la. Seriam mais duas milhas com essa opção, portanto Hugo decidiu pela escalada.
Não foi nada fácil. Primeiro, se equilibrar na areia fofa era uma tarefa árdua; segundo, a inclinação da duna era desfavorável para qualquer subida; e por último, um vento soprava areia nos olhos de Hugo, causando um incômodo persistente. Depois de quase meia hora de caminhada( que no deserto é uma eternidade sem igual), Hugo finalmente chegou ao topo.
De início, o sol cegou-o por um segundo, depois a cegueira foi substituída por uma visão embaçada e então, a normalidade visual. Dali o deserto parecia maior, mas não menos desolador. Hugo contemplou a visão por algum tempo e, antes de começar a descida( que com certeza seria mais fácil), ele notou algo mais ao horizonte. A menos de três léguas, uma colônia se erguia. Sem pensar duas vezes, Hugo pôs-se numa descida acelerada seguida por um caminhar tão rápido quanto, que transformou-se em corrida. Havia a certeza de que chegaria até o anoitecer.
Uma alegria contagiava nosso protagonista, fazendo-o esquecer do tempo e do espaço ao redor, esquecer do deserto e dos orcs, esquecer de tudo que havia perdido. Da onde estava, ele não podia ver mais a colônia, mas estava lá, Hugo tinha certeza. Dez, vinte, trinta metros. Cem, Cento e cinquenta, trezentos metros. Quinhentos, Setecentos, mil metros. Mil e quinhentos, Dois mil, três mil e quinhentos metros. A caminhada não era nada cansativa agora.
Então, cinco metros a sua frente, Hugo encontrou os orcs.