O que as pessoas da colônia Terra Nova viram, as deixaram um tanto quanto curiosas. Em sua rotina noturna, um aldeão viu um estranho homem se aproximando correndo. Outras pessoas na colônia tiveram a atenção atraída pelo estranho, fosse porque notaram aquela figura na escuridão da noite ou porque gritaram para verem aquilo.
O que elas viram foi o seguinte: Vindo do deserto, um homem de quase 23 anos, mantos cinzentos cobrindo o corpo, rosto sujo, barba por fazer e ( essa parte eles se contradisseram muito a respeito) um lagarto sendo carregado junto ao peito. Ele vinha correndo em extrema velocidade, mais ou menos quando uma multidão havia se formado para observá-lo. Era algo glorioso, digno... até que ele tropeçou num montinho de areia e caiu próximo de um aldeão.
Todos observavam Hugo de uma distância segura. Ele estava deitado de bruços, rosto na areia, imóvel. Ficou assim por quase dois minutos, quando houve uma implosão de areia debaixo dele, jogando-o para o lado e virando-o de barriga para cima. E, onde ele estava deitado, estava o lagarto semi-sufocado, recuperando o ar perdido. Era uma criatura que media 50 centímetros, corpo amarelo, um círculo negro no meio das costas e olhos grandes e escuros, parecidos com duas bolas.
Então o desespero:
–Ahhh! – gritou uma aldeã – Um calango-areia! AHHHH!!
Uma gritaria seguiu a da mulher e, em instantes, muitos pessoas já haviam corrido dali. O calango limitou-se a balançar a cabeça para cima e para baixo. Logo, não se via uma pessoa perto de Hugo e do calango. O réptil se dirigiu ao dedo de seu salvador e mordeu-o, fazendo- o sentar e berrar de dor.
–Mas que – Hugo se interrompeu – Ué? Cadê o pessoal da colônia? – e olhou para o calango.
O calango assentiu àquela pergunta que não fora de “sim ou não”. Hugo ficou decepcionado. Levantou-se, pegou o lagarto e o colocou sobre o ombro, e criatura respondeu com uma escalada até sua cabeça. Hugo começou a caminhar por dentro da colônia, procurando sinal de vida naquela amontoado de barracas onde caberiam cerca de sete pessoas. Eram barracas altas e cor de marfim, começando a amarelar por causa do tempo. Por toda a parte haviam fogueiras na qual jantares estavam sendo feitos. No centro da colônia estava uma estrutura fixa, provavelmente algum tipo de prefeitura ou morada de algum sábio.
E, claro, bem ao fundo da colônia, um lago de grandes dimensões.
–O que deseja, senhor? – uma voz velha se dirigiu a ele pelas costas.
Hugo se virou e notou que a voz pertencia a um senhor de idade com cabelos pretos despenteados e barba feita, com um manto vinho cobrindo o corpo, ainda que com uma abertura para enxergar sua calça preta.
–Eu...hã...– Hugo começou, muito mal – Eu quero virar membro da colônia.
–Como? – o ancião se impressionou.
–Virar membro da colônia. Sabe?
–Bem, não é bem assim que as coisas acontecem e... Ninguém nunca nos pediu nada igual. Queira me seguir, por favor.
E Hugo seguiu-o.