sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Terra Morta: O Homem no Deserto – Parte I


O sol castigava a terra morta de Junka, que em tempos imemoriais já foi fértil. O cenário desolador baseia-se em nada mais do que léguas e léguas de deserto e terras áridas, com oásis tão raros quanto a neve que caía por lá. A neve, na verdade, era um fenômeno meteorológico que acontecia, mas sem explicação casual. E acontecia somente uma vez em anos.

E caminhando em alguma parte desse enorme deserto, encontramos Benjamin, nosso protagonista. Vamos chamá-lo de Ben. Ele está a onze semanas perdido neste deserto. Isto porque sua última colônia chegou a um fim indubitável. Seus pouco mais de cinquenta membros começaram a morrer ainda no caminho, vítimas de um calor terrível que os secou, enlouqueceu e derrubou, não exatamente nesta ordem. A tempestade de areia pôs fim ao sofrimento do resto do resto deles.

Ben não fora o único sobrevivente da colônia; Sônia, Carlos e um camelo caminharam com ele por um tempo. O inabalável Carlos se foi na frente, o camelo caiu com Sônia montada nele. Por sorte a moça sobreviveu, a mesma sorte que faltou ao camelo. Isto apenas na primeira semana. A semana seguinte contou com uma inacreditável sobrevivência do casal. “Não ficarei mais sozinho”, pensava Ben, mas a noite no deserto era cruel como o dia, sendo um oposto extremo. Na terceira semana, Sônia dormiu e não acordou mais. Ben estava sozinho de novo.

A quinta semana teve um dia desesperador, o qual a água chegou ao fim. A salvação veio de um cacto solitário que estava carregado com água límpida e potável. Ela durou um mês. Na décima semana, a água acabou junto dos alimentos. Mais uma vez a sorte encontrou Benjamin horas depois. Era uma carcaça enorme com punhados de carne podre, mas com uma ou duas partes aproveitáveis. E não longe dali uma poça de água improvável o esperava. Nesse dia, o 73º dele depois da tempestade, ele acreditou que havia algo maior o protegendo, uma entidade. Ele lhe deu o nome de Senhor da Areia.

Então, Bem aproveitou aquela refeição por completo, sem se importar com o amanhã, descansou e no dia posterior seguiu o caminho acreditando ser invencível e que acharia um povo com o qual compartilharia seu Senhor da Areia. Veio a 11ª semana sem comida ou água, colônia ou pessoa no deserto, exceto o próprio Ben e a insanidade mais que aparente. O dia não tinha forma sólida, a noite era um terrível pesadelo que o consumia. E agora ele está aqui, em seu 80º dia no deserto, o 51º sem contato com outro humano.

Ele está cansado, faminto e com sede; grita por algo que não é claro o bastante para se saber o que é. Levanta os olhos e vê um oásis. Ben corre até ele e se joga. A miragem se desfaz neste momento. O desespero toma conta dele, o faz ter alucinações piores, chegando a imaginar ver mormontes. “Uma lenda”, ele sussurra a si próprio, “e se não for, afinal de contas”, a loucura lhe perguntou. Ben corre pra longe daquilo tudo, para o sol que logo mais irá se pôr, trazendo a noite. Não se sabe quanto ele correu, mas ele acabou caindo e adormecendo.

A noite fria tomou conta do cenário desolador. A lua roxa daquele mundo estava cheia e fantástica ao seu modo. Sombras dançavam no deserto, a uma distância segura de Ben, e se foram para não se sabe onde. A noite passou, a madrugada veio. O amanhecer surgiu pouco depois. E Ben não havia acordado. Ele dormia um sono sem sonhos, calmo e solitário. Seu manto de panos grossos e sujos o protegia do sol queimante, apesar de tudo; sua pequena adaga que o havia ajudado a cortar o cacto de onde tirou água e a carne da carcaça da criatura estava presa a bainha, que por sua vez estava presa ao cinto.

O sol do meio-dia estava bem alto, mas Ben dormia sem mais sentir fome. O sol começou a cair para o leste e Ben parou de sentir sede. A noite voltou e ele não acordou. À meia-noite, Benjamin morreu por causa de uma parada cardíaca, e lá ficou seu corpo. Lá se foi o protagonista.

Poucas horas depois do amanhecer, o corpo estava lá, com os panos cobrindo o rosto do falecido. Vinda do norte, uma figura surge. É um homem coberto de panos grossos de cor cinza, alguns cantis de água dispostos por debaixo dos panos, fiapos de cabelos negros que fugiam pela abertura dos olhos que eram castanhos escuros. Este homem se chama Hugo e também anda pelo deserto, só que a duas semanas, e continua vivo.

A partir desse ponto ele será nosso protagonista.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente!