sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Terra Morta: O Homem no Deserto – Parte IV(Final)


A fogueira ainda queimava, as tigelas e copos estavam vazios e a história havia terminado. Hugo estava sentado, pensativo sobre o que ouvira.
De acordo com o que ouvira, Rubens estava naquele deserto fazia quase seis meses, com somente ele e seus dois camelos na carroça. E claro que os camelos puxavam a carroça. No dia anterior aquele, ele encontrara dois viajantes vindo em sua direção. “Não fazia muito tempo desde que eu vira alguém, mas companhia nunca é demais”. Eles estavam completamente encapuzados, sem nenhum sinal do rosto. Rubens, então, perguntou se estavam bem e se precisavam de algo, eles disseram que sim. O velho não teve mais tempo de reação quando eles abaixaram o capuz.Lá estavam dois orcs-do-deserto, rostos desfigurados e pele verde podre. O da esquerda atacou Rubens, lançando-o ao chão e deixando-o desacordado. Quando este despertou, haviam levado um camelo e machucado o outro, levado comida e água, tesouros e roupas.
–E o meu medalhão – ele completou.
Hugo estava em silêncio. O velho ia começar a falar, mas foi interrompido por ele.
–Para onde eles foram?
–Não vai adiantar – Rubens tentou – eles devem estar distantes
–Tenho uma dívida com você.
–Não tem, não.
–Hum. Pode pelo menos dizer para onde está a colônia mais próxima?
–A oeste daqui, naquela direção – Rubens apontou.
–Obrigado. Por tudo.
Hugo se levantou e seguiu o caminho.
–Nem vai querer descansar? – o velho perguntou.
–Não.
–Você já deve estar a um tempo perdido. Devia aproveitar essa última noite como um “perdido” e amanhã seguir caminho.
Hugo ignorou-o. Pegou o manto empoeirado e vestiu; cruzou os cantis e acertou a adaga no cinto; pôs-se a caminho do leste. Rubens notou ser um caso perdido. Então, gritou:
–Ah! Quer saber? Eles foram nessa direção também! Se encontrar com eles, moleque, nem tente um confronto!
–E caso eu pegue o medalhão, quando te devolvo?
–Não vai pegar.
–Não respondeu a pergunta – Hugo encarou-o nessa hora.
–É seu, seu besta. Eu sei que não vai conseguir mesmo.
“Eu também pensava que eu não iria sobreviver ao deserto. Mas veja onde estou: a caminho de uma nova colônia”, pensou Hugo, e seguiu seu caminho para um encontro com uma nova e perturbante vida.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Terra Morta: O Homem no Deserto – Parte III


Já havia escurecido no deserto.
Hugo estava sentado num banquinho em frente a uma fogueira. Na esquerda havia outro banco e a uns dois metros da fogueira estava a carroça do homem que o havia convidado para jantar. “Vamos, qual o mal? Fique e jante comigo; não tenho companhia a tempos!”, ele falou quando Hugo tentara recusar. E lá, dentro da carroça, estava o homem.
Hugo prendeu a atenção nas labaredas da fogueira. Fazia semanas desde a última vez que ele vira uma daquela. Coisa magnífica, autoritária e luminosa, uma estrela que caíra na sua frente abençoando o campo árido em que estavam. Aqueles pensamentos atraíam as lembranças de Hugo no seu tempo de colônia e o fazia refletir se voltaria a encontrar alguma outra ainda em vida.
A corrente de pensamento foi quebrada quando o velho abriu a porta de supetão com algumas tigelas, copos, uma garrafa d’água, dois garfos e um pedaço de carne. Ele estava sorrindo e cantarolava baixo. Ele chegou pondo um tigela e um prato na frente da cadeira onde ele sentaria e outra tigela e outro prato na frente de Hugo. Então, pôs-se a falar:
–Não é sempre que eu tenho visitas! – e deu uma risada que parecia uma fungada de porco – Espero que goste de carne de camelo. Salgada, claro.
O sujeito tinha pouco mais de um metro e sessenta, cabelo preto que começava a ficar cinzento, barba grossa enchendo o rosto, uma túnica marrom que lhe cobria dos ombros aos pés e sandálias de tiras. Aparentava muito levemente ser manco da perna esquerda, tinha mãos grossas porém decididas. O sorriso estava sempre estampado no rosto.
–Muito, obrigado – respondeu Hugo – Não sei o nome do senhor.
– “Senhor” o caralho! Me chamam de Rubens! Rubens, o mercador.
– Interessante.
– Hahahaha! Não é o que você está mostrando!
–Como?
–Interesse, garoto. Interesse...
–Oh, sim – Hugo esticou as pernas e bocejou – Com certeza foi a estadia no deserto que eu tive.
–Claro, claro.
Os dois começaram a comer em silêncio. Foi Hugo que quebrou o silêncio
. –Algo me intriga.
–Fale logo – o velho interpôs-se.
–Como o senh...digo, você leva essa carroça pelo deserto sem um camelo?
– Você o está comendo.
Hugo soltou o prato no colo e olhou o velho.
–Não, não! – o velho começou a explicar – Não o matei só pra ter alimento! Ele se feriu gravemente e faleceu. Só estou fazendo bom proveito.
–Ah, sim.
– Bem, temos muito tempo. Vou te contar.
E começou a contar, com Hugo apreensivo ao que dizia.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Terra Morta: O Homem no Deserto – Parte II


Hugo do norte, de um pequeno oásis que tinha uma colônia em volta. E, em volta do oásis, alguns quilômetros de terras áridas que viravam areia do deserto pouco depois disso. Há um ano, o oásis começou a secar, tendo seu fim verdadeiro a três meses. A colônia começou uma migração para o sul, com a consequência catastrófica de perder vários membros. De duzentos membros, cerca de setenta morreram. Esses que sobraram encontraram, ao primeiro mês de peregrinação, uma fonte d’água límpida. O erro dos que correram a frente para beber daquela água foi não saber que tinha um dono.
Um escorpião-gigante, uma criatura do deserto, atacou os membros da colônia, matando dezenas deles e ferindo outros. Depois de uma intensa batalha, três dos soldados mais fortes do grupo mataram a criatura. Com a morte de mais algumas pessoas por causa da ferida do escorpião-gigante, sobravam agora pouco mais de quarenta pessoas na colônia. E com o aparecimento de mais algumas criaturas do deserto reclamando a água da fonte, a colônia se lançou em caminhada há um mês.
Dia após dia, um membro a mais caía nas mãos da morte. Após mais um tempo de caminhada, e vinte membros a menos, uma pequena lagoa. Hugo foi o único que não bebeu daquela água e o único que não sucumbiu àquela água envenenada. Ele parou naquele lugar por um tempo para enterrar seus companheiros e a lagoa. “Estou salvando vidas”, ele dizia para si próprio. E seguiu seu caminho, sozinho, nessas últimas duas semanas.
Hugo desceu a duna até chegar no corpo.
–Legal – ele disse – o primeiro contato com um ser humano em duas semanas. Pena que não está vivo.
Procurou por algo que o homem pudesse estar carregando. Achou dois cantis de um litro cada, algumas moedas de bronze e uma adaga afiada. Guardou tudo com cuidado e seguiu o caminho para o sul, procurando algum sinal de civilização ou mesmo de um humano, vivo de preferência. Nada de animais selvagens vivos, seria um problema, ele sabe.
A parte arenosa do deserto começava a desaparecer naquele ponto. Isso significa que ele havia andando por dois meses e meio em um lugar onde anteriormente havia um oceano, e que agora está numa parte que foi terra firme em um passado bem distante. “Provavelmente ninguém se lembra, nem mesmo por livros, como isso aqui foi antes de se tornar um deserto. Nem devem saber porque é um deserto agora”, o pensamento de Hugo conversava com ele.
Mais quatro quilômetros de caminhada e a terra se tornara dura sob seus pés. Aquele é o pedaço em que antes não havia mar, mas sim uma antiga terra, quem sabe fértil. Mas agora é apenas um campo árido e sem vida. “O caminho a seguir será mais difícil”, essa era a certeza que se somava a ideia de morte na cabeça de Hugo. O ar pesava cada vez mais, andar era uma tarefa que requeria muito dele e aguentar o calor já havia virado uma tarefa a parte.
Hugo parou naquele campo árido e observou. Pelos cálculos, já deveria ter passado da hora da Meia-tarde( algo como 15 horas para nós), com o sol encaminhando para o poente no oeste. E havia absolutamente nada para sua frente e para seus lados. Ele começava a se indagar se o sul seria realmente sua melhor escolha.
O tempo passou e a hora do Poente iniciou.
O vento soprava alguma areia em Hugo, que foi forçado a olhar para baixo e a cobrir melhor o rosto. Era a primeira vez que ele se encontrava naquele tipo de cenário, naquela região, e não sabia o que esperar ou encontrar por lá. E encontrar algo era a parte mais assustadora, ainda mais com a noite se aproximando.
A ventania parou e Hugo pode olhar para frente mais uma vez. Em seu lado direito, a uns cem metros de distância, ele avistou algo. Pôs-se em corrida, com um ânimo recém-encontrado. Uma carroça! E tinha um lampião aceso, sinal de que havia alguém, vivo, mas ainda restava a questão da humanidade.
Era uma carroça rústica, de madeira, cerca de oito metros quadrados de espaço, não tendo mais de dois de altura. Sim, era um humano. Hugo estava mais próximo, quase na porta da carroça, quando essa se abriu, saindo de dentro um homem idoso.
–Veja só – ele disse – Tenho companhia esta noite! Isto é, se você quiser. Quer?

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Terra Morta: O Homem no Deserto – Parte I


O sol castigava a terra morta de Junka, que em tempos imemoriais já foi fértil. O cenário desolador baseia-se em nada mais do que léguas e léguas de deserto e terras áridas, com oásis tão raros quanto a neve que caía por lá. A neve, na verdade, era um fenômeno meteorológico que acontecia, mas sem explicação casual. E acontecia somente uma vez em anos.

E caminhando em alguma parte desse enorme deserto, encontramos Benjamin, nosso protagonista. Vamos chamá-lo de Ben. Ele está a onze semanas perdido neste deserto. Isto porque sua última colônia chegou a um fim indubitável. Seus pouco mais de cinquenta membros começaram a morrer ainda no caminho, vítimas de um calor terrível que os secou, enlouqueceu e derrubou, não exatamente nesta ordem. A tempestade de areia pôs fim ao sofrimento do resto do resto deles.

Ben não fora o único sobrevivente da colônia; Sônia, Carlos e um camelo caminharam com ele por um tempo. O inabalável Carlos se foi na frente, o camelo caiu com Sônia montada nele. Por sorte a moça sobreviveu, a mesma sorte que faltou ao camelo. Isto apenas na primeira semana. A semana seguinte contou com uma inacreditável sobrevivência do casal. “Não ficarei mais sozinho”, pensava Ben, mas a noite no deserto era cruel como o dia, sendo um oposto extremo. Na terceira semana, Sônia dormiu e não acordou mais. Ben estava sozinho de novo.

A quinta semana teve um dia desesperador, o qual a água chegou ao fim. A salvação veio de um cacto solitário que estava carregado com água límpida e potável. Ela durou um mês. Na décima semana, a água acabou junto dos alimentos. Mais uma vez a sorte encontrou Benjamin horas depois. Era uma carcaça enorme com punhados de carne podre, mas com uma ou duas partes aproveitáveis. E não longe dali uma poça de água improvável o esperava. Nesse dia, o 73º dele depois da tempestade, ele acreditou que havia algo maior o protegendo, uma entidade. Ele lhe deu o nome de Senhor da Areia.

Então, Bem aproveitou aquela refeição por completo, sem se importar com o amanhã, descansou e no dia posterior seguiu o caminho acreditando ser invencível e que acharia um povo com o qual compartilharia seu Senhor da Areia. Veio a 11ª semana sem comida ou água, colônia ou pessoa no deserto, exceto o próprio Ben e a insanidade mais que aparente. O dia não tinha forma sólida, a noite era um terrível pesadelo que o consumia. E agora ele está aqui, em seu 80º dia no deserto, o 51º sem contato com outro humano.

Ele está cansado, faminto e com sede; grita por algo que não é claro o bastante para se saber o que é. Levanta os olhos e vê um oásis. Ben corre até ele e se joga. A miragem se desfaz neste momento. O desespero toma conta dele, o faz ter alucinações piores, chegando a imaginar ver mormontes. “Uma lenda”, ele sussurra a si próprio, “e se não for, afinal de contas”, a loucura lhe perguntou. Ben corre pra longe daquilo tudo, para o sol que logo mais irá se pôr, trazendo a noite. Não se sabe quanto ele correu, mas ele acabou caindo e adormecendo.

A noite fria tomou conta do cenário desolador. A lua roxa daquele mundo estava cheia e fantástica ao seu modo. Sombras dançavam no deserto, a uma distância segura de Ben, e se foram para não se sabe onde. A noite passou, a madrugada veio. O amanhecer surgiu pouco depois. E Ben não havia acordado. Ele dormia um sono sem sonhos, calmo e solitário. Seu manto de panos grossos e sujos o protegia do sol queimante, apesar de tudo; sua pequena adaga que o havia ajudado a cortar o cacto de onde tirou água e a carne da carcaça da criatura estava presa a bainha, que por sua vez estava presa ao cinto.

O sol do meio-dia estava bem alto, mas Ben dormia sem mais sentir fome. O sol começou a cair para o leste e Ben parou de sentir sede. A noite voltou e ele não acordou. À meia-noite, Benjamin morreu por causa de uma parada cardíaca, e lá ficou seu corpo. Lá se foi o protagonista.

Poucas horas depois do amanhecer, o corpo estava lá, com os panos cobrindo o rosto do falecido. Vinda do norte, uma figura surge. É um homem coberto de panos grossos de cor cinza, alguns cantis de água dispostos por debaixo dos panos, fiapos de cabelos negros que fugiam pela abertura dos olhos que eram castanhos escuros. Este homem se chama Hugo e também anda pelo deserto, só que a duas semanas, e continua vivo.

A partir desse ponto ele será nosso protagonista.

O primeiro projeto

Bem, vou começar em breve o projeto que é a base- motivo de criação do “Paisagens”. Não vai se tratar de nenhum texto de auto-ajuda que leva em conta o mundo atual, muito menos algo relacionado à rebelião( um protesto no futuro, quem sabe). Sem críticas a assuntos como cinema, política, televisão, economia, religião; sem mensagens de (des)agrado geral; nada de diários ou relatos pessoais de amores perdidos; nenhuma enumeração misteriosa...

Vou escrever uma história.

Uma longa e ficcional história. Algo contínuo até que chegue seu fim. Algo que fuja de nossa cotidiana realidade. Algo que eu possa compartilhar com vocês e que espero que vocês também contribuam.Espero que esta história não morra tão cedo.

Agora, o modo de lançamento irá funcionar em partes. Como assim? Bem, todos os posts da história terão o título do “livro”; os capítulos serão como arcos de HQ’s, sendo divididos nas tais partes. Um arco poderá ter várias partes como poderá também ser o inverso. Deu para entender?

Bem, é de minha pretensão inicial postar uma parte por semana(quero criar uma boa história), uma vez que posso acabar postando outras coisas além da história e que também tenho que estudar. Gostaria que dessem a sincera opinião sobre o andamento da história.

Nada mais a declarar. Por hora.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

O momento em que dizem "Inauguração"

Deveria ser mais fácil começar coisas como um blog, uma revista ou mesmo um livro. Não podemos dizer algo do tipo "alô, começou aqui, certo?"; muito pelo contrário, temos de mostrar algo que agrade a nós mesmos, original. Por isso não vou colocar nenhuma placa com os dizeres "Grande Inauguração".

Aqui estamos, em alguma parte de um sonho compartilhado, tão sólido quanto deveria ser. Até mais. De antemão eu já lhe agradeço, Prezado Visitante, por escutar o que tenho a dizer (sim, escutar. Aposto que há uma voz, ainda que não seja a minha voz, que ecoa minhas palavras) e refletir sobre o assunto. Fico feliz por isso. Aliás, bem-vindo.

Começou aqui, certo?

Uma paisagem de um sonho é inspiradora.

Este é o momento em que sopro vida nesse projeto.